sábado, 23 de fevereiro de 2013

História de Forquilhinha : Por Adolfo Back - III


1.3.- Chegada ao Porto de Destino.

 

 

      Quando os nossos maiores chegaram ao porto do Desterro, hoje Florianópolis, e pisaram novamente terra firme, estavam sem destino pré-determinado, sem guia e sem lar. Esta circunstância de extrema gravidade levou o Governo da província de S. Catarina a construir um barracão coberto de palha no continente, onde todos os imigrantes foram alojados. Essa barraca se denominou Palhoça, de que teve origem o nome do município e cidade de Palhoça.

      Fora franqueado aos imigrantes a escolherem eles próprios os terrenos onde iam cultivar e habitar. Parte dos imigrantes seguiram rumo à hoje próspera zona de São Pedro de Alcântara; outros se embrenharam pelas matas do rio Cubatão e vieram a se estabelecer nas imediações de Santo Amaro da Imperatriz. Os terrenos se assemelhavam aos do Mosela, de onde se expatriaram. Das famílias ora residentes de Forquilhinha com origem de Mosela têm os Michels, Sehnem, Junkes, Backes, Arns da aldeia de Pünderich; Preis, Loch, Steiner de Koblenz, na foz do Mosela no Reno; Back da aldeia de Briedel; Schmitz, Kuhnen, Borgert, Horr, Heerdt. Das demais famílias de origem westfaliana, que tiveram ingresso no Brasil cerca de trinta anos mais tarde, enumeramos os Eyng,Warmling, Hoepers, Nürnberg, Berkenbrock, Kurtz, Buss, Boeing, Kühlkamp, Ricken, Hobold. As famílias Westrup, hoje bastante numerosa, espalhadas por todo o estado de Santa

Catarina e fora dele, descendem de Henrique Westrup, moço solteiro, oriundo da Dinamarca e que chegou ao Brasil na terceira década do séc. XIX. Conta-se que Henrique Westrup, pertencente à família nobre da Dinamarca, estivera servindo seu governo por muito tempo e quando do regresso, já órfão de pai e mãe, procurou seu irmão, que justamente neste dia, tinha em seu palácio visita de muitas pessoas fidalgas. Como, no entanto, o irmão se apresentou um tanto mal trajado, vindo da guerra, fez que este esperasse por algum tempo, pois que queria dar-lhe trajes condizentes para apresentá-lo aos visitantes. Esperava Henrique Westrup que o irmão viesse recebê-lo com braços abertos e com extraordinária alegria após anos que estivera a serviço da pátria. A frieza e a visível excitação que demonstrou ao ver o irmão tão mal vestido, tanto o chocaram que não esperou pelas vestes que o irmão lhe traria, mas deu meia volta e saiu para bem longe, e,assim, veio ao Brasil.

      Quanto há de verdadeiro nesta lenda, não sabemos, mas o certo é que veio solteiro para o Brasil e aqui ele, bastante loiro, casou com Maria Rosa de Jesus, brasileira, bem morena, nascida segundo uma versão em Biguaçu e por outra em Pernambuco. A sua cor morena talvez deu motivo às más línguas dizerem, em sentido pejorativo, que descendia de bugres. Nosso avô, Gregório Westrup, filho de Henrique Westrup e Maria Rosa de Jesus, era moreno e de sua descendência até a quarta geração ainda aparecem pessoas de cor morena e cabelos pretos e lisos. Henrique Westrup estabeleceu-se em Vargem Grande no rio Cubatão. Era possuidor de diversos escravos, mas tratava-os humanamente e os escravos lhe queriam bem. De religião luterana, criou os filhos todos na religião católica.

Nosso avô, Gregório Westrup, depois de casado com Catarina Michels, residia também em Vargem Grande e, no ano de 1886, quando mamãe, segunda filha do seu matrimônio, tinha 13 anos, mudou-se com muitos outros, para o vale do rio Capivari. Após muitos anos, em viagem a Florianópolis, pois assim já se denominava a capital do Estado, passando por Vargem Grande, sua terra natal, juntou-se-lhe um negro de forte estatura, também a cavalo. O vovô que era muito expansivo, entrou logo em amigável conversação. Quis então saber o nome. Qual não foi o espanto, a perplexidade do vovô, quando ouviu o negro dizer: "Meu nome é Gregório Westrup." "Mas como?" –exclamou o avô:- "Este também é o meu nome." O Gregório Westrup, preto, continuou:- "Meu pai era escravo de Henrique Westrup e por ocasião da abolição da escravatura, papai tomou como sobrenome o de seu patrão e, portanto, no batismo, eu recebi o nome de Gregório e me chamo Gregório Westrup."

      Que surpresa para ambos. É lamentável que não sabemos o prenome do ex-escravo, mas é irrefutável que o patrão Westrup era humano e benquisto dos seus escravos.

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