1.3.-
Chegada ao Porto de Destino.
Quando os nossos maiores chegaram ao porto do Desterro, hoje
Florianópolis, e pisaram novamente terra firme, estavam sem destino
pré-determinado, sem guia e sem lar. Esta circunstância de extrema gravidade
levou o Governo da província de S. Catarina a construir um barracão coberto de
palha no continente, onde todos os imigrantes foram alojados. Essa barraca se
denominou Palhoça, de que teve origem o nome do município e cidade de Palhoça.
Fora franqueado aos imigrantes a escolherem eles próprios os
terrenos onde iam cultivar e habitar. Parte dos imigrantes seguiram rumo à hoje
próspera zona de São Pedro de Alcântara; outros se embrenharam pelas matas do
rio Cubatão e vieram a se estabelecer nas imediações de Santo Amaro da
Imperatriz. Os terrenos se assemelhavam aos do Mosela, de onde se expatriaram.
Das famílias ora residentes de Forquilhinha com origem de Mosela têm os
Michels, Sehnem, Junkes, Backes, Arns da aldeia de Pünderich; Preis, Loch,
Steiner de Koblenz, na foz do Mosela no Reno; Back da aldeia de Briedel;
Schmitz, Kuhnen, Borgert, Horr, Heerdt. Das demais famílias de origem
westfaliana, que tiveram ingresso no Brasil cerca de trinta anos mais tarde,
enumeramos os Eyng,Warmling, Hoepers, Nürnberg, Berkenbrock, Kurtz, Buss,
Boeing, Kühlkamp, Ricken, Hobold. As famílias Westrup, hoje bastante numerosa,
espalhadas por todo o estado de Santa
Catarina e fora dele,
descendem de Henrique Westrup, moço solteiro, oriundo da Dinamarca e que chegou
ao Brasil na terceira década do séc. XIX. Conta-se que Henrique Westrup,
pertencente à família nobre da Dinamarca, estivera servindo seu governo por
muito tempo e quando do regresso, já órfão de pai e mãe, procurou seu irmão,
que justamente neste dia, tinha em seu palácio visita de muitas pessoas
fidalgas. Como, no entanto, o irmão se apresentou um tanto mal trajado, vindo
da guerra, fez que este esperasse por algum tempo, pois que queria dar-lhe
trajes condizentes para apresentá-lo aos visitantes. Esperava Henrique Westrup
que o irmão viesse recebê-lo com braços abertos e com extraordinária alegria
após anos que estivera a serviço da pátria. A frieza e a visível excitação que
demonstrou ao ver o irmão tão mal vestido, tanto o chocaram que não esperou
pelas vestes que o irmão lhe traria, mas deu meia volta e saiu para bem longe,
e,assim, veio ao Brasil.
Quanto há de verdadeiro nesta lenda, não sabemos, mas o certo é
que veio solteiro para o Brasil e aqui ele, bastante loiro, casou com Maria
Rosa de Jesus, brasileira, bem morena, nascida segundo uma versão em Biguaçu e
por outra em Pernambuco. A sua cor morena talvez deu motivo às más línguas
dizerem, em sentido pejorativo, que descendia de bugres. Nosso avô, Gregório
Westrup, filho de Henrique Westrup e Maria Rosa de Jesus, era moreno e de sua
descendência até a quarta geração ainda aparecem pessoas de cor morena e
cabelos pretos e lisos. Henrique Westrup estabeleceu-se em Vargem Grande no rio
Cubatão. Era possuidor de diversos escravos, mas tratava-os humanamente e os
escravos lhe queriam bem. De religião luterana, criou os filhos todos na
religião católica.
Nosso avô,
Gregório Westrup, depois de casado com Catarina Michels, residia também em
Vargem Grande e, no ano de 1886, quando mamãe, segunda filha do seu matrimônio,
tinha 13 anos, mudou-se com muitos outros, para o vale do rio Capivari. Após
muitos anos, em viagem a Florianópolis, pois assim já se denominava a capital
do Estado, passando por Vargem Grande, sua terra natal, juntou-se-lhe um negro
de forte estatura, também a cavalo. O vovô que era muito expansivo, entrou logo
em amigável conversação. Quis então saber o nome. Qual não foi o espanto, a
perplexidade do vovô, quando ouviu o negro dizer: "Meu nome é Gregório
Westrup." "Mas como?" –exclamou o avô:- "Este também é o
meu nome." O Gregório Westrup, preto,
continuou:- "Meu pai era escravo de Henrique Westrup e por ocasião da
abolição da escravatura, papai tomou como sobrenome o de seu patrão e,
portanto, no batismo, eu recebi o nome de Gregório e me chamo Gregório Westrup."
Que surpresa
para ambos. É lamentável que não sabemos o prenome do ex-escravo, mas é
irrefutável que o patrão Westrup era humano e benquisto dos seus escravos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário