2.3.- À Procura de Novas Terras.
No
ano de 1910, um grupo de homens, João José Back, Geraldo e Gabriel Westrup, os irmãos
Guilherme e Francisco Back, Gabriel Arns, os dois últimos ainda solteiros,
todos do Capivari, resolveram fazer uma viagem à colônia de São Bento, no então
município de Araranguá. Tal resolução exigia muita intrepidez; pois, tratava-se
de, por péssimos e desconhecidos caminhos, transpor montes e rios e cavalgar
por três dias, nem sempre achando hospedagem para comer e pernoitar.
O alvo dessa viagem era duplo, visitar os
parentes que lá residiam e também procurar terras para comprar; pois, para
moradores do Capivari, que sempre ocuparam terrenos acidentados, as planícies
continuavam a ser um atrativo. Após terem visitado todos os parentes em São
Bento e com os terrenos desta localidade todos ocupados, dada a sua
extraordinária fertilidade e também por se tratar de área relativamente
pequena, os nossos pioneiros resolveram ir à frente à procura de boas terras. Em
São Bento se juntaram mais duas pessoas ao grupo, Gabriel Backes e Jerônimo
Michels.(Apenas Gabriel Backes ainda se conta entre as pessoas vivas.)
Muniram-se de víveres para alguns dias de
permanência nas matas virgens, de um pequeno aparelho, bússola de bolso,
indicador dos rumos norte e sul, três bons cachorros e lá se foram os nossos
exploradores das matas virgens. De São Bento se embrenharam pelas matas rumo ao
Rio do Cedro, descendo por este, para então se aprofundar mais na selva.
Chegando a noite, os nossos pesquisadores se
achavam não muito distantes do Rio Morto. Procuraram árvores grossas com raízes
salientes para se abrigarem de eventuais ataques de feras ou dos índios. Como
se achavam cansadíssimos da marcha de um dia todo, adormeceram. Por pouco
tempo, porém; pois, os cães começaram a latir apavorados e com barulho infernal,
presságio de perigo. Naturalmente ninguém mais pôde dormir com o ladrar dos
cães e com a iminência de perigo de agressão. Na manhã seguinte puderam ver
pelas pegadas que uma onça andara rondando-os durante a noite. Dada a canseira
da caminhada do dia anterior e de noite mal dormida, parte da caravana, os mais
tímidos, desejavam retroceder; outros queriam prosseguir. Finalmente,
resolveram tomar o rumo sul.
Nesta caminhada, chegaram ao Morro Bodoque.
Subindo-o em parte e trepando em árvores para se orientar, viram à sua frente
em rumo leste uma imensidão de selvas, que se estendiam até Maracajá, antiga
Morretes, ao longo e além do rio Mãe Luzia. Viam em sua frente grande trecho de
mato de cor parda, sinal de terrenos úmidos e, mais além, mato de um
verde-escuro em rumo sueste, indicando passar por lá um rio que devia ser o Rio
do Cedro, que haviam atravessado no dia anterior. Resolveram, pois, girar
o rumo, que vinham seguindo naquela manhã em 90 graus, seguindo, portanto, o
rumo do nascer do sol.
No primeiro dia, um dos companheiros, Francisco
Back, felizmente o mais magro e leve, machucara um pé e durante a noite
inflamou assim, que sofria grandes dores e com grande dificuldade conseguia
caminhar. No prosseguimento do rumo traçado, entraram no trecho de terreno
úmido, que avistaram do monte. Onde havia muita água, o doente era carregado por
um dos companheiros, assim também na travessia dos riachos e rios. Apesar da
fadiga da marcha esforçada pelas matas, de noite mal dormida, não perderam os
nossos pioneiros o bom humor. Nas travessias dos rios, o doente era carregado
por Gabriel Westrup, que sempre bancava o São Cristóvão. Aquele abraçava este pelo
pescoço e suspendia as pernas para não tocarem na água. Quando a água era
bastante funda, ameaçando alcançar o cavaleiro, o carregador fingia a
profundidade de água cada vez maior. Chegando ao Rio do Cedro, seguiram por este
em rumo à sua embocadura no Mãe Luzia. Ali já existiam alguns moradores.
Não satisfeitos com o que viram nesta marcha
de três dias por entre as matas e sabendo da fertilidade do terreno nas margens
do Manuel Alves; pois estava presente João José Back, resolveram pesquisar
também este vale tão decantado. Seguindo, pois, pelo Rio Manuel Alves acima, já
encontraram comprado todo o terreno e moradores, embora, em toda a extensão,
muito dispersos, ocupando já parte do terreno até onde hoje está localizada a
cidade de Meleiro. Contrataram um caçador conhecedor de toda a zona das
vertentes do rio Manuel Alves. Os nossos pioneiros penetraram novamente pelos
matos, chegando até ao Rio Morto, não muito longe de onde estiveram no fim do
primeiro dia. Voltando até o local da partida com o caçador, rumaram em direção
ao rio Jundiá, descendo por este até a sua foz e, portanto, não muito longe da
cidade de Araranguá. Cansados e um tanto desiludidos, com os pés arranhados e
feridos, pois que todos andavam descalços, puseram-se de volta pelas picadas ao
longo do rio Mãe Luzia acima, chegando a São Bento, de onde haviam partido.
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