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Frigorífico Sul-Catarinense
S.A.
-Frisulca.
A sementinha, lançada no dia
30 de maio de 1962 pelo Prefeito Neri Rosa numa terra um tanto ressequida,
depois regada com a viagem de inquisição no Frigorífico de Itoupava em Blumenau,
de propriedade da Firma Jansen, não chegou a germinar. A vida latente no
pequenino grãozinho pulsava oculto mesmo no chão estéril. Novas irrigações com
fertilizantes se fizeram e até que finalmente os primeiros sinais de vida se fizeram
perceptíveis: O grãozinho germinou.
No dia 15
de junho de 1963, reuniram-se em assembleia geral um grupo de homens destemidos
para fundar uma sociedade anônima com um capital inicial de dez milhões cruzeiros
velhos. Era a firma Frigorífico Sul Catarinense S.A. (Frisulca) em organização.
Tomavam parte nesta companhia-piloto pessoas proeminentes de Criciúma,
Siderópolis e Tubarão. Visava esta nova empresa inicialmente angariar fundos
para solver as despesas de pesquisa, o estudo profundo da viabilidade do emprego
de grandes capitais na zona Sul de S. Catarina para exploração da
industrialização de Produtos alimentares, derivados de animais suínos, bovinos
e outros, como os subprodutos como as farinhas de carne, de osso e sangue e muitos
outros. Este estudo fora feito por firma especializada de São Paulo e Rio de
Janeiro, que, após pesquisar toda a zona Sul de Santa Catarina em suas
minúcias, concluiu pela sua excelente viabilidade e extrema necessidade do empreendimento
visado.
A
preocupação de Gabriel Keglevich, chefe da comissão pesquisadora, era a capacidade
do estabelecimento a ser construído, em tamanho suficiente para manipular e
estocar os animais que poderiam ser fornecidos nos 26 municípios, hoje 36,
percorridos pela comissão investigadora. Afirmavam que o mínimo de capacidade
diária do abate de 200 suínos era necessário para um frigorífico ser rendoso,
mas que, como observara dos estudos feitos, aqui seria absolutamente necessário
um estabelecimento com a potência de abater bem maior número e que, no futuro ,
devia ser bem maior, i.e., com a possibilidade de 500 a 800 suínos diários. Mas
dizia ele, vem ali o problema do custo de um tal frigorífico. Sugeriu então que
o anteprojeto devia prever em sua estrutura, a possibilidade de aumento do estabelecimento
a ser implantado. Dos estudos e pesquisas a que a firma especializada procedeu,
apresentou relatório minucioso de tudo que foi dado observar e, no final,
concluía com oito diferentes itens o porquê da escolha da localização do
empreendimento em Forquilhinha, aliás muito honrosos estes para a nossa
localidade.
Por ocasião
da constituição da firma, o Frisulca, foram escolhidos por votação os diretores,
Fidelis Back, Bertoldo Arns, Inocêncio Warmling para Diretor-Presidente, Comercial
e Técnico respectivamente. Para membros efetivos do Conselho Fiscal foram eleitos
Fidelis Barato, Oberon Strazules e Ayrton Brandão e os suplentes Arlindo
Junkes, Felix Albano Michels e Damásio Reis. O Conselho consultivo ficou assim
constituído: D. Anselmo Pietrulla, Sebastião Neto Campos, Dionísio Nuernberg,
Leonardo Steiner e Adolfo Arns. Foi devidamente publicada no Diário Oficial a
ata da constituição, os estatutos, a lista dos subscritores com o número de
ações subscritas, o recibo do Banco Inco de depósito dos 100 % do capital
subscrito e do despacho da Junta Comercial do Estado, onde recebeu o número de
registo 29.055. Assim a nossa débil plantinha tinha lançado as primeiras
folhinhas.
Nos estudos
feitos se demonstrou existirem na zona pesquisada 450.000 habitantes, assim
divididos: 110.000 em cidades e 340.000 nas zonas rurais; portanto 24,5% e
75,5% respectivamente. A grande porcentagem de rurícolas tinha à sua disposição
excelente área para o cultivo de todas as espécies de culturas e de um modo
todo especial para o milho, a soja e as boas pastagens, requisitos esses
essenciais para a pecuária que, uma vez racionalizada, teria capacidade
extraordinária de produção.
As cidades
por seu turno, apresentam tendência de crescimento vertiginoso e, portanto, demanda
sempre crescente dos produtos agropastoris. Era, pois, necessária e urgente a implantação
de um frigorífico regional para o desenvolvimento rural e citadino. Baseado
nestes pareceres, é que se fundou o Frisulca, num esforço conjugado de líderes
da colônia de Forquilhinha e de industriais de Criciúma. Levar avante um tal
empreendimento só era possível pela democratização do capital, conjugando as
forças dos produtores e dos consumidores, que deveriam participar ativamente no
empreendimento. O intento teve de imediato amplo apoio do Ex.mo Senhor Governador
do Estado e é de ressaltar a colaboração ativa e entusiástica do Exmo Sr. Bispo
da diocese de Tubarão, que não só participou com a subscrição de uma ação do
capital inicial, como também foi um batalhador e animador da causa em apreço.
Este interesse pelas coisas terrenas Sua Exa tinha demonstrado muito antes, quando
promovia e patrocinava as semanas ruralistas em sua diocese, antes da
existência da ACARESC em nosso Estado, onde reunia agrônomos, veterinários e outros
técnicos do Ministério e da Secretaria da Agricultura para incentivar e racionalizar
os trabalhos da Frigorífico Sul zona colonial mediante, palestras, conferências
e demonstrações. O intuito de participar e interessar nas coisas corporais
partiu do pensamento "anima sana in corpore sano".
O quanto
Sua Excelência está dedicado à causa do Frisulca depreende-se de ter aceito a presidência
do Conselho Consultivo até, como disse, que o empreendimento esteja em pleno funcionamento,
quando então cederá o seu cargo de membro deste Conselho a um agricultor da região.
Organizada
a companhia-piloto, de imediato, se adquiriu um terreno na orla norte da sede
do distrito de Forquilhinha, que apresentava ótimas condições para a
implantação dos edifícios, dos esgotos, de excelentes pastagens para o gado
bovino a ser abatido no frigorífico e por onde passa a estrada estadual, ligando
Forquilhinha em rumo sul e norte do País.
Estava
destinado para o ano de 1964, o começo da obra. Diversas firmas especializadas forneceram
projetos do futuro frigorífico e na apresentação destes estiveram presentes representantes
das mesmas firmas que com a Diretoria discutiram os prós e os contras de um e
de outro anteprojeto até que se uniram no projeto definitivo, pelo qual foi
edificado o nosso frigorífico. A posição da estrutura externa e a interna
obedeceram à disposição e arranjos dos mais modernos que existem em matéria de matadouro-
frigorífico. Outro, não menos importante, assunto para o mesmo ano era o de
angariar fundos para a execução da construção e a compra da maquinaria do estabelecimento.
No dia 19/9/64 realizou-se a assembleia geral extraordinária, na qual foi
ratificado o aumento do capital de 10 para 20 milhões de cruzeiros;
participaram representantes de quase todos os municípios do Sul catarinense. Em
novembro do mesmo ano participavam 1120 sócios, que subscreveram 4.400 ações. E
atraente observar como, no Boletim de Subscrição, tomaram parte pessoas de
todas as categorias profissionais, a começar do médico até ao operário. Também
se via no mesmo boletim que a grande maioria, em número exato de 490 dos
subscritores, estão identificados como agricultores, seguindo-se lhes, bem distanciados,
108 comerciantes.
Numa casa de madeira, existente no terreno
adquirido, depois de remodelada, se estabeleceu o escritório do Frisulca, bem
defronte do local da construção. Também foi adquirida uma propriedade de 3,5 ha
de terras com uma boa casa de madeira, que pertencia a Osvaldo Paim, anexa ao
terreno do Frisulca.
Após a
terraplenagem do local, onde se iria implantar o frigorífico, se iniciou e
terminou a pocilga, capaz de abrigar até 800 suínos e que viria servir por
enquanto para o depósito de materiais e equipamentos para a construção principal.
O dinheiro disponível e as entradas mensais dos subscritores foram sem demora aplicados
na compra de cimento, ferro, areia, cal, pedras e de todos os demais materiais
necessários para a construção, tendo em mira o constante aumento dos preços e a
desvalorização que se tomava exasperada naquela época. Passou-se assim para o
ano subsequente, i.e., para 1965, em que estava para se concretizarem grandes acontecimentos.
Ao projeto de financiamento, elaborado pela organização Agro e Hidrotécnica, que
eram os assessores técnico-econômicos da Diretoria do Frisulca, apresentado à
Carteira de Crédito Agrícola e Industrial do Banco do Brasil, com recursos da
Aliança para o Progresso, foi concedido um empréstimo de 217 milhões de cruzeiros.
Mediante esses recursos, o Frisulca, por intermédio de seus diretores, pôde
assegurar por compra cerca de 90% dos equipamentos necessários para o bom
funcionamento do Frisulca. Para a realização desta compra fez-se uma tomada de
preços e ofertas junto a 12 firmas fornecedoras de maquinaria necessária no
setor frigorífico, do isolamento necessário para as câmaras de resfriamento,
câmaras de congelamento e salas de manipulação de carne. Feita a comparação de
preços, condições, qualidades da maquinaria ofertada pelas diversas firmas,
decidiu-se pelas melhores e bem combinadas máquinas. O total do maquinaria e as
instalações negociados representam um peso de 94 toneladas e o material
isolante para as câmaras frigoríficas 420 metros cúbicos. Importou o total
global destas compras em 335 milhões de cruzeiros. Em locais favoráveis foram
perfurados dois poços semi-artesianos com a profundidade de 80 m onde foram
encontra ótimos lençóis de água de boa qualidade.
O
bloco-fábrica com todas as suas dependências foi começado em janeiro deste ano com
as fundações enormes, as obras de concreto armado até o primeiro andar, a laje
que abrange todo edifício principal, o segundo pavimento, armação para a
cobertura toda de concreto armado, sem usar uma linha sequer de madeira que dá
a toda construção um preventivo contra incêndio, a enorme caixa de água, com capacidade
de 75 m3 , os canais de esgotos por entre todo os prédios que
convergem a um canal principal, a imensa chaminé de 35 m de altura, tudo isto
foi soerguido neste mesmo ano de 1965.
Em março de
1966, a Diretoria já podia anunciar aos sócios, pelo boletim n, 3 que cinco
prédios do conjunto industrial estavam em fase de acabamento e retoques, como
também já havia, embora com atraso, parte da maquinaria instalada e os 420 m de
termo isolante se achavam aplicados. Todos os cálculos iniciais e mesmo durante
a edificação dos prédios, embora se tenham incluído nos cálculos os efeitos da desvalorização
de nossa moeda, de acordo com os índices apresentados desde 1960, foram falhos,
devido à agravação da situação inflacionaria assinalada em 64/65. Assim foi
necessário pleitear junto ao Banco do Brasil, com recursos da Aliança para o
Progresso, uma aplicação de financiamento. Foram então concedidos mais 64 milhões
de cruzeiros. No dia 30 de abril de 1966 houve a Assembleia Geral Extraordinária,
convocada para o aumento do capital para um total de meio bilhão de cruzeiros,
assim distribuídos:
a)- as 220
milhões já existentes;
b)- 120
milhões sendo negociados como Fundece;
c)- 160
milhões a serem vendidos aos acionistas e novos sócios.
Também se
resolveu nesta Assembleia dividir uma ação de 50 mil cruzeiros em cinco ações
de dez mil cruzeiros. De acordo com a lei foi feita a reavaliação do ativo
imobilizado referente ao ano de 1964, quando apenas tinham comprado parte do
material de construção, dando uma bonificação de 300 cruzeiros por ação
dez mil cruzeiros. Ainda em
cumprimento à lei, no fim do ano de 1966, se fez a reavaliação referente aos
anos 1965/66, época em que se fizeram as obras e se adquiriu todo o equipamento.
Nesta determinação do valor exato e atual do capital empregado, resultou uma bonificação
de 44,2%, portanto 4.420 cruzeiros por ação de 10.000 cruzeiros.
O
Frigorífico Sul-Catarinense S.A. acha-se implantado numa área de 32 ha de terras
em Forquilhinha, município de Criciúma, adquirido pela importância de Cr$
8.500,000,00 velhos. Dispendeu na construção do imóvel a importância de NCr$
260.000,00, onde foram instaladas a fábrica e as câmaras frias, tendo 4.760 m2
de área construída. Este sólido patrimônio imobiliário foi adquirido pela importância
de total de NCr$ 268.500,00 e atinge hoje a cotação elevada de NCr$
565.0000,00.
A aquisição
das máquinas para a fabricação de frio, juntamente com a aparelhagem eletrônica
para o controle das temperaturas foi feita na firma Ceres S.A., de Belo
Horizonte. Com esta maquinaria, toda automatizada, espelhando o que existe de
mais moderno no Brasil, a indústria está capacitada a exportar os seus produtos
congelados para os grandes centros consumidores do país, como Rio de Janeiro e
São Paulo.
Procurou-se
aplicar a técnica mais atualizada nas instalações de maquinaria e na distribuição
da produção industrial, tanto na matança de suínos e bovinos, como na
fabricação de farinha de carne, farinha de ossos, farinha de sangue, graxaria
industrial, banha e salsicharia. Por este complexo equipamento foi paga a
importância de NCr. 380.000,00 em cifras redondas; no entretanto, se fossem
adquiridas nos preços atuais, avultaria para NCr$ 780.000,00. Todo este
emaranhado e enredado de coisas a serem instaladas se arrastou até o mês de
outubro de 1966, se bem que se antevia estarem finalizados até maio do mesmo
ano.
Nos últimos
meses deste ano é que se conseguiu pôr em movimento o Frisulca com o abate de
suínos e bovinos. Também no ano subsequente, os trabalhos continuaram, mesmo desprovidos
do capital de giro, e simultaneamente se procurou conseguir, por novos
empréstimos, estes recursos. Como todas as demarches não foram coroadas de
êxito, a industrialização do Frisulca continuou claudicando nos primeiros meses
de 1968 até, afinal, se resolveu deter estes trabalhos e procurar capitais
capazes de pôr em completo e desembaraçado funcionamento o estabelecimento,
quer por subscrição de novas ações, quer por empréstimos. Esta é a situação atual.
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