4.9.- Padre Felix Mrugalla.
Se o entusiasmo do povo de Forquilhinha não
obedeceu a limites na chegada de Padre Paulo, assim a consternação foi enorme
por ocasião de sua saída. Estavam as Irmãs sem o capelão, a igreja fria,
apagada a luz que lembra a presença de Jesus Sacramentado, o povo todo sem
esperanças de uma solução do caso em breve tempo. Apelar para quem e para onde?
-era a grande interrogação de um para outro.
Para todas as situações da vida humana existe
um provérbio, assim também em nosso caso. "Wo die Not am groessten, ist
Gott am naechsten." Traduzido dá o seguinte sentido:- Onde a angústia
chega ao seu auge, Deus está mais perto. A exatidão deste provérbio, nós a sentimos
de perto.
Sem nosso conhecimento, sem nossa interferência,
eis que se apresenta no dia 18 de outubro de 1936, o Rev.mo Padre Felix Mrugalla,
da cidade de Dresden na Alemanha, munido com amplos poderes e direitos como coadjutor
do Vigário da paróquia de Nova Veneza, com residência em Forquilhinha. O contentamento,
o regozijo de todos é indescritível.
P. Felix tomou residência em duas peças da
casa em que residiam as Revmas Irmãs. Ainda moço, mas experimentado, Padre
Felix aqui começou as suas atividades, ele que por um triz escapou da morte,
das artimanhas violentas e sanguinárias de Hitler nos tristes episódios de 20
de junho de 1936, que custou a vida de muitos inocentes, estava apto para
enfrentar dificuldades, que se lhe apresentassem. Com afinco pôs-se a estudar
português e pretendia fazer o primeiro sermão em vernáculo, no dia 6 de janeiro
de 1937, após três meses de permanência no Brasil.
Alegre e afável recebia a todos que o procurassem.
A comissão da igreja costumava visitá-lo aos sábados ou domingos, e as conversações
geralmente giravam em tomo dos problemas da comunidade ou então sobre uma
Obra
moderna que tratava de inovações.
Numa destas visitas queixara-se de uma dor no
lado direito abaixo das costelas. Apesar desta dor, ainda executou ensaios de
ginástica. No dia seguinte, sendo domingo, só com dificuldade pôde celebrar a
missa. Aconselhado a procurar o médico, achou que a dor era passageira. Já no
dia seguinte, achando-se mal, concordou em chamar o médico. Dr. José Balsini constatou
apendicite aguda e o conduziu para o hospital São José em Criciúma. Tratando-se
de caso grave e de vida preciosa, o Dr. Balsini achou por bem convidar o Dr.
Otto Feuerschütte, médico experimentado de Tubarão, e de noite já executaram a
operação.
Após a operação, Dr. Otto já afirmou:- "Nós,
médicos, nada mais podemos fazer pela vida deste paciente, só o
Altíssimo." Tudo, porém, corria normalmente e dava margem a uma vaga
esperança de recuperação. Não tardou a apresentar-se a crise, e P. Felix
Mrugalla falecia longe de seus parentes, da sua pátria e deixava Forquilhinha
novamente na orfandade, no dia 18 de dezembro de 1936, justamente no dia em que
inteirava os dois meses de sua chegada. Jovem ainda, pois que nascera no ano de
1900.
No cemitério presenciam-se muitos casos
tristes, cenas horripilantes: uma vez é um pai, é a mãe arrebatada pela morte
do seio de
família
numerosa, e todos carecendo de um pai para o sustento ou de mãe carinhosa. No
entanto, nunca assisti a cena tão triste, consternação tão profunda e geral
como no enterro do Padre Felix. Pranteavam homens, mulheres, velhos e moços, enfim
todos. Em todos os semblantes lia-se o grande ponto de interrogação. E agora?
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