2.6.- As Primeiras Lavouras.
No
mês de agosto de 1911, a fim de vir ocupar os terrenos comprados dos irmãos Canela,
Geraldo Westrup e João José Back, com os filhos Geraldo e Adolfo, vieram do Capivari,
trazendo alguns cargueiros, com ferramentas, víveres e roupa de cama e tudo o
mais, necessário para começar as primeiras lavouras. Gabriel Arns, que ainda
era solteiro e também adquirira do mesmo terreno, não veio trabalhar no terreno
por ele comprado, mas foi trabalhar e desmatar o terreno comprado, por seu
irmão Augusto, que, por motivo de doença, não pudera vir.
Havia no terreno comprado dos Canelas, mais
ou menos onde hoje mora Hilário Michels, uma ranchola coberta de palha e as
paredes de pau a pique, todas esburacadas. Este rancho tinha sido ocupado até a
nossa vinda por pessoas intrusas. Estas mantinham soltos alguns porcos, que comiam
o milho atirado a eles na entrada do rancho. E claro que os suínos comiam o
milho, reviravam a terra, formando enorme lamaçal na entrada da ranchola. Ali
devíamos entrar e sair por quase dois meses. Fez-se a remoção de parte da lama,
colocando paus roliços. Por cima deles entrávamos e saíamos muitas vezes
durante o dia. No interior do rancho, o chão era úmido; pois, as águas não
podiam escorrer e tínhamos um tempo muito chuvoso, de sorte que nada se podia
colocar no chão. Improvisamos tarimbas para as camas e para as roupas e
lombilhos, etc. Cozinheira ou cozinheiro, não havia. Sabíamos apenas cozinhar
feijão. De manhã, antes de irmos ao trabalho da lavoura, se preparava uma
panelada de feijão com um bom pedaço de charque, a panela pendurada num gancho
e bastante fogo. Antes do meio-dia se rechegava a lenha e de meio-dia e à noite
se comia à feijoada. O pão de milho era feito em São Bento pela boa e
inesquecível tia Teresa, de onde se ia buscar quando estava para terminar a provisão
anterior. Trazer o pão de São Bento estava garantido, quando o rio dava
passagem a cavalo, mas muitas vezes o rio estava cheio e não havia outro meio
de lá chegar.
O rancho estava dividido em dois compartimentos.
Um servia de quarto de dormir para todos e o outro era a cozinha. Quando alguém
queria mudar de roupa, os demais iam para a cozinha. Tocando no entanto, a vez
de mudar de roupa ao tio Geraldo Westrup, espírito alegre, mesmo que já tivesse
mudado de roupa, começava a gritar:- "Não venham para cá; pois, está mesmo
no mais perigoso!"
Durante os dois meses que aqui permanecemos,
plantamos milho e batatinha e fizemos a derrubada de mato para milho e arroz. No
começo de novembro tomamos a voltar para a queimada da coivara, limpeza,
plantação e capina das lavouras já plantadas. Por três vezes consecutivamente
fizemos a viagem de ida e volta do Capivari para então decidir-nos a fazer a transmigração
da família toda para cá.
A convivência com o povo nativo se desenvolvia,
de modo geral, sem colisão e lutas. Eram sinceros e afetuosos, não admitiam,
porém desaforo. Andavam sempre, principalmente nos ajuntamentos, armados de
arma de fogo e uma espada de 70 a 80 cm de comprimento, com guarnição de cabo,
que traziam pendurada na alça da bainha a balançar na cinta e à vista de todos.
Era hábito e não má-fé. Quando, no entanto, havia entre eles desavenças, o caso
ficava perigoso, faziam uso das armas e não raro aconteciam os homicídios. Os
últimos focos de tais brigas foram às localidades de Santa Rosa e Sanga do Engenho.
Neste último lugar, houve discórdia em que ficaram três mortes e muitos, gravemente
feridos. O pior era a vindita que se seguia a tais casos, e muitos tombaram nas
tocaias.
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