domingo, 3 de março de 2013

História de Forquilhinha : Por Adolfo Back - LVIII


24.- Culturas Principais.

 

Existe uma lenda que o nome dado ao rio que percorre toda a zona de Forquilhinha, de norte a sul, tem a sua origem de uma velhinha, viúva, que tinha a sua morada em qualquer parte à beira deste mesmo rio. E esta mãezinha era chamada Mãe Luzia. O que de histórico existe neste conto não o sabemos, no entanto, existe este nome dado ao nosso rio, bem como o morro solitário, não muito distante de Maracajá, denominado o Morro de Mãe Luzia, onde se erguem as duas torres repetidoras das televisões, a Gaúcha e a Piratini.

O rio Mãe Luzia, que nasce nas imediações de Lauro Müller, nas encostas da Serra do Mar, seguindo quase que paralelo à Serra em rumo sul, serpenteando por entre os morros até a cidade de Nova Veneza, onde começa a se afastar cada vez mais da Serra do Mar.

Dessa cidade em diante na margem direita, já não mais existem os morros; porém, na esquerda a cordilheira de morros vem acompanhando o rio, diminuída de altitude para desaparecer por completo e ter se afastado cerca de 1000 metros do rio, na localidade de São Defende. Apesar de o rio Mãe Luzia descrever uma linha irregular, mantém, de modo geral, o rumo de norte para o sul, recebendo na margem direita os afluentes São Bento, Rio do Cedro e Manuel Alves e na margem esquerda o rio Sangão, para desaguar no rio Araranguá. Em todo este trajeto, após ter saído da porte montanhosa, os terrenos marginais conservam as mesmas características, i.e., as várzeas baixas, terrenos de aluviões, muito férteis, fáceis de serem atingidas pelas cheias fluviais; sobre as margens, planícies com pequeno declive em sentido contrário ao rumo do rio também excelentes para o cultivo do milho, a soja, a cana, batata-doce e batata-inglesa e outros; com variações de 200 a 1000 metros da costa do rio, seguem-se elevações lentas e não acentuadas, no máximo de 6 m acima do plano geral, que são outeiros mais ou menos extensos, aqui impropriamente denominados espigões. São estas colinas ótimas para o plantio da mandioca e, mesmo, uma vez cultivadas e adubadas, para todas as culturas. A sequência de tais ondulações é muito variável, às vezes, com pequeno intervalo entre um e outro espigão, mas também distanciados até 500 ou mais metros.

Entre estas elevações assinalam-se planícies, e, no sentido do rumo do rio, declividade perceptível; mas no sentido contrário, conserva o mesmo nível, mesmo que se apresente com maiores extensões. Estas depressões são terrenos úmidos, devido ao difícil escoamento da água pluvial. Denomina-se de banhado, mas não são brejos, mas transitáveis com a carreta ou o carro de bois. Seriam estes terrenos perfeitamente cultiváveis para o milho e a soja, caso houvesse perfeito esgotamento por intermédio de uma draga; por via braçal é muito dispendioso, por se tratar de grandes distâncias onde abrir os canais para dar vazão à água. Estes terrenos úmidos são aproveitados para potreiros e, principalmente, para a cultura do arroz. Assim, esta cultura é usada desde os primórdios da colonização sulina de Santa Catarina. Em lugar dos canais para o esgoto das águas pluviais, se introduz agora água aos rios para a irrigação dos arrozais, como vimos na descrição do canal de Santa Teresinha, na margem direita do rio Mãe Luzia, e como também existe um na margem esquerda, que capta a água do rio Mãe Luzia não muito distante de Nova Veneza. Esta canalização da água é executada pela firma de Criciúma de Damásio Reis. De certa altura, aquém da povoação de Mãe Luzia, divide-se em dois ramos principais, um servindo aos agricultores da linha de Forquilhinha e o outro, à linha do Banhadinho, que são imediatas.

A indústria do beneficiamento do arroz também se faz presente desde o início da colonização. Primeiro, a máquina de beneficiar arroz de Gabriel Arns, seguindo a indústria de Fridolino Michels, que vendeu o descascador à Sociedade União Colonial e esta, em seguida, vendeu a Nicolau Trevisol. No início de 1962, Antônio Aléssio, que mantinha boa instalação para o beneficiamento do arroz no lugar de Rio Morto, resolveu montar uma indústria moderna para o beneficiamento do arroz em nossa comunidade, para o que adquiriu um terreno que pertencia a Alfredo Steiner. Perto do rio Mãe Luzia e próximo ao centro de nossa vila, edificou, primeiro, um prédio de 50 por 28m, com dois pavimentos, sendo que o segundo pavimento começou sobre uma laje de concreto armado, que abrange toda a área, menos as entradas para o depósito de arroz. Na parte térrea foi instalada moderna máquina, fabricada e adquirida em Jaboticabal no estado de São Paulo, com potência de 50 sacos de arroz em casca por hora. Todas as máquinas em uso no

estabelecimento, são movidos a motores elétricos. O arroz a granel, todo ele, é

transportado por elevadores, e o ensacamento é mecanizado, como também a costura dos sacos. Nos fundos, ao lado do rio, em outra construção com 50 por 12 m, encontram-se instalados os tanques e os secadores do arroz. Este processo do preparo do arroz foi introduzido no nosso Estado, primeiro, no vale do Itajaí, de onde se expandiu para todas as zonas arrozeiras de Santa Catarina.

A inovação do processamento de beneficiação do arroz consiste em que o arroz procedente das lavouras é despejado em grandes tanques com água, revolvendo-se suficientemente para que os eventuais resíduos da palha e o arroz chocho venham a flutuar sobre água e facilmente sejam afastados. O arroz coberto com a água aqui permanece em média 70 horas, variável de acordo com a temperatura existente. E evidente que grande parte da água é absorvida pelos grãos de arroz, que ficam intumescidos a ponto de darem começo à germinação. E o momento de o arroz ser tirado do tanque e posto onde as correias elevadoras o conduzem para despejar dentro de tubos cilíndricos, a girar aquecido a fogo. A posição desses tubos é quase horizontal, com uma pequena inclinação pelo lado onde derrama o arroz já um tanto aquecido e apanhado por outra correia que o conduz a um outro tubo, com as mesmas qualidades de funcionamento. Assim passando por quatro tubos consecutivos, o arroz se encontra suficientemente seco e é elevado na altura necessária para derramar por intermédio de calhas no segundo pavimento do prédio principal, onde é espalhado para o devido esfriamento. Todo esse processo da secagem automático e mecanizado. Apenas a retirada dos tanques é executada por via braçal. São diversas as finalidades deste processo do arroz antes de entrar no descascador propriamente dito. Em primeiro lugar, com a inchação provocada pela infiltração da água no tecido celular e caindo o arroz neste estado nos tubos secadores, a casca se desprende do grão e com facilidade é removida pelo descascador sem forçar o grão nela contido e, portanto, havendo assim pouca quebra dos grãos. Uma segunda finalidade de processo é ligar os grãos já quebrados pelas trilhadeiras ou nas lavouras pelas intempéries do tempo a que estavam expostos nas lavouras. O grão, embora quebrado, conserva na casca unida as partes quebradas: amolecido pela ação água, a cola intrínseca do grão liga as partes quebradas nos secadores, tornando-o no seu estado normal. O terceiro objetivo do processo é a coloração do grão, que se apresenta com a cor amarelada, igual ao tipo do arroz amarelão que obtém o melhor preço no mercado consumidor. Em quarto lugar se afirma que o arroz assim processado rende cerca de 5% a mais e, finalmente, o arroz que se denomina de arroz de estufa, ao cozinhar-se, apresenta os grãos soltos e não, pastoso como o arroz comum, sendo mesmo mais gostoso, e querem que seja nutritivo, contenha mais vitaminas. O certo é quem se habituar a comer o arroz de estufa dificilmente aceita o arroz comum.

Também se acha instalada na entrada para o estabelecimento uma balança com capacidade de trinta mil quilos, em que os caminhões são pesados com a sua carga; deduzida a tara, se obtém o peso líquido do produto. Este empreendimento em plena atividade é manobrado por doze operários, o que bem demonstra que todos os trabalhos mecanizados no que é possível. Este empreendimento encetado por Antônio Aléssio se achava em pleno desenvolvimento, quando foi o empreendedor barbaramente assassinado em pleno centro da cidade de Criciúma, no 3 de janeiro de 1963. Os trabalhos, com pequena interrupção de continuidade, como é natural prosseguiram pelos filhos e já entrou em atividade a industrialização no mesmo ano

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