sábado, 2 de março de 2013

História de Forquilhinha : Por Adolfo Back - XX


4.2.- À Procura do Menino Jesus.

 

É bastante conhecido o fato histórico, relatado na Bíblia Sagrada, dos três Reis Magos, que se puseram a caminho do Extremo Oriente, guiados por estrela misteriosa a indicar-lhes algo de extraordinário, o nascimento do Filho de Deus em qualquer parte do mundo. Obedecendo ao caminho mostrado pela inexplicável estrela, chegaram a Jerusalém, onde a estrela-guia desapareceu repentinamente. Indagando então junto a pessoas competentes onde nascera o que Menino, o Rei dos judeus, a estranha investigação causou a Herodes e a toda a população de Jerusalém grande assombro. Reuniu o rei Herodes os letrados e estes verificaram, segundo a profecia, que devia ser em Belém. Os Reis Magos prosseguiram o caminho rumo a Belém, e novamente lhes apareceu a estrela misteriosa e os guiou à cidade procurada e parou sobre o local onde se encontrava o Menino Jesus. Entraram na casa e encontraram o Menino com Maria, sua mãe, e o adoraram e presentearam-no. Quanto penoso, cheio de sacrifícios de toda espécie lhes apresentou tão longa viagem, cheia de ilusões; porém, a Sagrada Escritura conta que se achavam extremamente felizes ao encontrarem o Menino Jesus.

Um fato na história de Forquilhinha se assemelha, em parte, a busca do Menino Jesus pelos Reis Magos. Até os primeiros dias do mês de janeiro de 1919, o professor Jacó Arns tinha preparado um grupo de adolescentes, de ambos os sexos, 22 ao todo, para a primeira comunhão.

Até esta data por falta de sacerdotes e mesmo de um local, capela, para esta festividade, ainda não fora dada a oportunidade e a felicidade deste ato religioso, embora um deles já contasse com a idade de 17 anos. O professor entrou em contato com o Vigário e as Irmãs de São Ludgero e combinaram levar até lá o grupo de jovens, onde receberiam os últimos retoques de conhecimentos necessários para serem admitidos à primeira comunhão. Tendo ajustado, partiram daqui o professor Jacó Arns, Lieschen Sehnem Hoepers, Adélia Arns, Maria Steiner com o grupo dos 22 jovens, com cargueiros, levando roupas, víveres e animais de montaria para o pessoal da excursão. Houve um caso em que três irmãos, Adolfo, Paulo e Valentina Schneider: tinham um só animal disponível para os três irmãos montarem, se bem que já eram bastante crescidos, de 17, 15 e 14 anos. A grande maioria seguiu a dois para um animal de montaria.

Não se pode ter ideia exata de quanto representava em sofrimentos e sacrifícios para os nossos jovens cavaleiros tão mal acomodados, nos longos e quentes dias do mês de janeiro, partindo daqui e seguindo o itinerário por; Criciúma, Urussanga, Rancho dos Bugres, Azambuja, Pedras Grandes, Barra do Norte, onde pernoitaram, seguindo no dia imediato até São Ludgero, ao todo acima de 100 km. As pessoas que acompanharam a caravana, tinham a incumbência de atender os jovens em lugar das respectivas mães, que não puderam acompanhá-los.

Lá chegando, foram bem recebidos e agasalhados, participando das últimas instruções, e no dia 26 de janeiro de 1919 foram solenemente recebidos à primeira comunhão. Junto aos 22 jovens mais um menino de 9 anos de idade, Bernardo Philipi de São Ludgero, que estava de partida para o seminário de São Leopoldo, compartilhou das festividades. Era este menino o conhecidíssimo cônego Bernardo Philipi, capelão nos últimos tempos no Hospital São José de Criciúma.

Com muita antecedência o padre Cônego Bernardo Philipi entrou em contacto com pessoas que ainda residem em Forquilhinha e tomaram parte da primeira comunhão de 26 de janeiro de 1919, para reunir todos os sobreviventes e festejar no dia 26 de janeiro de 1969 o cinquentenário da primeira comunhão.

Tudo estava encaminhado para este invulgar cinquentenário, quando o Cônego foi acometido da terrível doença, a leucemia, que pôs rapidamente fim a sua preciosa vida. Já no leito de morte, nos últimos dias de vida, disse a

um dos companheiros da primeira comunhão, o companheiro de fila, Arnoldo Preis, que deviam continuar a promover este raro cinquentenário e, como ele não mais poderia estar presente, fizessem os festejos em Forquilhinha e não em Criciúma, como fora inicialmente previsto, que ele lá do céu tomaria parte nas solenidades que promovessem e que, caso alguém, dos companheiros tivesse um pedido, uma súplica, se dirigissem a ele lá no céu; pois, ele intercederia junto a Deus.

Realmente o Cônego Bernardo Philipi faleceu santamente no dia 5 de dezembro de 1968, não conseguindo sobreviver ao dia do cinquentenário e seus restos mortais foram levados e enterrados em seu torrão natal, em São Ludgero.

Os sobreviventes que residem em Forquilhinha, principalmente Arnoldo Preis e Delfina Arns Steiner se deram os melhores dos esforços para reunirem o maior número de jubilandos; porém, muitos já faleceram, outros residem muito distantes e o comparecimento se tornou impossível e finalmente há os cujo paradeiro nem mais se conhece nem se ainda contam entre os vivos.

Compareceram às solenidades, que constou de missa em ação de graças e uma mesada de bolos, doces e café: uma de Nova Veneza, Dona Helena Backes; um do Rio do Cedro, Adolfo Schneider e quatro de Forquilhinha, os dois promotores da festa e as viúvas Catarina Back e Maria Sehnem. Presidiu a comemoração do dia junto à mesa oferecida, Amoldo Preis, que homenageando os falecidos companheiros, citou as recomendações do recém-falecido Cônego Bernardo Philipi e propôs um minuto de silêncio em memória dos companheiros já falecidos, que todos atenderam de pé. A seguir agradeceu em nome de todos a Dona Adélia Arns Back, a única presente das pessoas que acompanharam a caravana, a fim de atender as crianças em todas as suas necessidades que surgissem, na distribuição das roupas, quando se tornava necessário mudá-las, no refeitório e no dormitório, dizendo que de fato, embora então ainda moça solteira, os atendeu com verdadeiro espírito de mãe carinhosa em todas as vicissitudes.

Dando continuidade à comemoração do cinquentenário, franqueou a palavra a quem dela quisesse fazer uso. Pediu a palavra em primeiro lugar a irmã Beatriz Sehnem, fazendo companhia a sua irmã Maria Sehnem, dizendo do prazer e satisfação em tomar parte numa comemoração tão invulgar, tão rara, porém com muita propriedade. Por último ainda falou Adolfo Back, convidado de honra, que também assistiu à festa da primeira comunhão em São Ludgero, dizendo que a ideia de festejar o cinquentenário da primeira comunhão fora muito feliz, que os participantes desta comemoração certamente se lembravam durante a missa desta manhã, lembram-se no momento e lembrarão no futuro este dia e todos os companheiros da jornada, todas as pessoas, que de um ou de outro modo contribuíram para a realização deste evento, mas que, de modo todo especial deviam recordar de duas pessoas que participaram destes acontecimentos, o Cônego Bernardo Philipi, idealizador desta festividade e que não pôde tomar parte ativa, pois que Deus o chamou há muito pouco tempo antes da data aprazada para esta comemoração, e por último do professor Jacó Arns, que tudo idealizou, tudo realizou, tudo fez para que se concretizasse dia 26 de janeiro de 1919, e, portanto, merecedor de nossa gratidão, estima reconhecimento.

Finalizando os festejos, os presentes ainda cantaram diversos cantos, entre estes cantos "Fest soll mein Taufbund immer stehen" na melodia como cantaram no dia da primeira comunhão; pois, atualmente se canta com outra melodia. Dando por encerradas as festividades todos rumaram aos seus lares contentes e satisfeitos.

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