4.4.-
Inauguração da Capela.
Para o dia 19 de março de
1921, já estava anunciada a vinda de Frei Mateus Hoepers O.F .M, filho desta
terra, para ler a sua primeira missa, as primícias, seguidas por muitas outras em
Forquilhinha. Dirigimo-nos ao padre Vigário de Nova Veneza para que ele
providenciasse de S. Ema D. Joaquim a licença para a bênção e inauguração
da igreja.
O dia
marcado para a primeira missa de Frei Mateus se aproximava e a autorização exigida
não vinha. Fiéis ao ditado Quem quer, vai;
quem, não quer, manda, foram
incumbidos Gabriel Arns e Adolfo Back de irem pessoalmente a Florianópolis para
trazerem em mãos a almejada autorização. Saíram a cavalo para irem até Pedras
Grandes, ou Palmeiras, e lá tomarem o trem para Laguna.
Como,
porém, foram informados em Criciúma de que naquele dia iria partir um trem de
carvão para Tubarão e que muitas pessoas, embora mal acomodadas, viajavam com
este trem, foram pedir licença para poderem seguir com o trem cargueiro. A
resposta não foi negativa nem positiva. Apenas disseram que muitos seguiriam
com o trem, mas que não se responsabilizavam por aquilo que viesse a acontecer.
Providenciaram uma caixa de madeira para colocá-la sobre o carvão e
sentarem-se.
De tarde
partiu o trem rumo a Tubarão. Todos os vagões estavam repletos de passageiros sobre
o carvão, satisfeitíssimos de poderem viajar. Em Içara o trem entrou de ré no
desvio, desatrelou a máquina e voltou para Criciúma, fazendo soar os apitos um
após outro, como zombando da perplexidade dos passageiros sobre o carvão. Os
nossos enviados, que não tinham tempo a perder, puseram-se a caminhar pelo trilho,
carregando a mala até Esplanada, onde pernoitaram.
No outro
dia, mal humorados, antevendo marcha forçada, ouviram um trem em movimento e
com o pouco peso que tinha em sua traseira, atingiu logo grande velocidade, maior
que a calculada; mas os dois passageiros clandestinos estavam agarrados ao
último vagão e conseguiram subir.
Em Morro
Grande não fez parada. Tudo bem, até Jaguaruna. Lá, porém, Sousa Reis, que se achava
com o maquinista, percebeu os clandestinos e veio ter com os operários com ameaças,
não deixando ninguém. Continuando a pé, os dois fizeram o trajeto de 16 km a pé
e chegaram a Tubarão.
Lá foram
informados que não embarcaria no vapor quem não pudesse apresentar atestado de
vacina contra varíola. Em Tubarão, a única pessoa capacitada para fornecer os
atestados, era o Dr. Otto Feuerschütte. Estava em Laguna e voltaria só de noite
e muito tarde. Foram, pois, os dois emissários ao consultório do Dr. Otto, onde
se encontrava o seu ajudante, que se prontificou a fazer as vacinas, mas que os
atestados só podiam ser assinados pelo médico. No entanto, ele apresentaria os
atestados para a assinatura, logo que chegasse de Laguna, e que nos traria à
estação antes da chegada do trem para Laguna. Tudo assim combinado, aplicou as vacinas
e os dois viajantes, sossegados, foram repousar das fadigas do dia.
No outro
dia, muito antes do horário do trem, foram para a estação, onde iriam recebe os
almejados atestados. Chegada a hora do trem o comboio entrou na estação e fez
sua parada costumeira. Os viajantes, com o olho em direção de onde deviam
aparecer os atestados impacientes se moviam de um lado para outro espreitando a
vinda do ajudante do médico. O relógio já marcava o último minuto da parada também
este se esgotou e o trem partiu. Mesmo sem os atestados, os dois embarcaram no
último momento, já com o trem em movimento, se saberem como iriam conseguir
embarcar no navio sem o documento exigido; mas era a última oportunidade de
chegarem a tempo para alcançar o navio que estava a partir.
Abancaram-se desalentados, junto a Augusto
Hülse, que também viajava para Laguna. O trem já se afastava da estação cerca
de 200 m, quando se viu, pela frente, ao lado do trilho o ajudante do Dr. Otto,
gesticulando com os braços e acenando um rolo de papel, duas folhas de papel
almaço com os atestados de vacina. Quando o vagão, onde viajavam os nossos
emissários, ia passando Augusto Hülse, com um golpe certeiro, apanhou os
documentos esperados com tanta ansiedade
A
continuação da viagem correu sem outros contratempos. Na volta, munidos com o documento
da autorização para a inauguração da igreja, tomaram o trem em Laguna até Palmeiras,
Pindotiba, alugando dois animais para virem de noite para os seus lares.
De posse da
devida autorização, Vigário Miguel Giacca executou a bênção e inauguração da igreja uma
semana antes da vinda de Frei Mateus Hoepers para rezar a sua primeira missa
solene.
É evidente
que a festa da primeira missa de Frei Mateus, marco inicial de muitos outros da
mesma solenidade em nossa igreja (e mais tarde paróquia), foi esperada com
ansiedade Embora nascido em S. Martinho do Capivari de lá partindo para o
seminário, nós consideramos como filho desta terra, pois que aqui residiam os
seus familiares, sua extremada mãe, irmãos e irmãs. Portanto, preparamos-lhe, de
acordo com as nossas posses, festa condigna.
Outro fato
digno de menção, logo após a inauguração de nossa igreja, foi o batismo condicional
de Adolfo Tiscoski, sua esposa e filhos ainda não batizados pela Igreja Católica.
Os
primeiros casais que recebera nesta capela, o sacramento do matrimônio mesmo dia, i.e., no dia 12 de
maio de 1921, foram Jacó Arns e Maria Arns, e Adolfo Back e Adélia Arns, eles,
professores de nossa escola.
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