sábado, 2 de março de 2013

História de Forquilhinha : Por Adolfo Back - XXII


4.4.- Inauguração da Capela.

 

Para o dia 19 de março de 1921, já estava anunciada a vinda de Frei Mateus Hoepers O.F .M, filho desta terra, para ler a sua primeira missa, as primícias, seguidas por muitas outras em Forquilhinha. Dirigimo-nos ao padre Vigário de Nova Veneza para que ele providenciasse de S. Ema D. Joaquim a licença para a bênção e inauguração da igreja.

O dia marcado para a primeira missa de Frei Mateus se aproximava e a autorização exigida não vinha. Fiéis ao ditado Quem quer, vai; quem, não quer, manda, foram incumbidos Gabriel Arns e Adolfo Back de irem pessoalmente a Florianópolis para trazerem em mãos a almejada autorização. Saíram a cavalo para irem até Pedras Grandes, ou Palmeiras, e lá tomarem o trem para Laguna.

Como, porém, foram informados em Criciúma de que naquele dia iria partir um trem de carvão para Tubarão e que muitas pessoas, embora mal acomodadas, viajavam com este trem, foram pedir licença para poderem seguir com o trem cargueiro. A resposta não foi negativa nem positiva. Apenas disseram que muitos seguiriam com o trem, mas que não se responsabilizavam por aquilo que viesse a acontecer. Providenciaram uma caixa de madeira para colocá-la sobre o carvão e sentarem-se.

De tarde partiu o trem rumo a Tubarão. Todos os vagões estavam repletos de passageiros sobre o carvão, satisfeitíssimos de poderem viajar. Em Içara o trem entrou de ré no desvio, desatrelou a máquina e voltou para Criciúma, fazendo soar os apitos um após outro, como zombando da perplexidade dos passageiros sobre o carvão. Os nossos enviados, que não tinham tempo a perder, puseram-se a caminhar pelo trilho, carregando a mala até Esplanada, onde pernoitaram.

No outro dia, mal humorados, antevendo marcha forçada, ouviram um trem em movimento e com o pouco peso que tinha em sua traseira, atingiu logo grande velocidade, maior que a calculada; mas os dois passageiros clandestinos estavam agarrados ao último vagão e conseguiram subir.

Em Morro Grande não fez parada. Tudo bem, até Jaguaruna. Lá, porém, Sousa Reis, que se achava com o maquinista, percebeu os clandestinos e veio ter com os operários com ameaças, não deixando ninguém. Continuando a pé, os dois fizeram o trajeto de 16 km a pé e chegaram a Tubarão.

Lá foram informados que não embarcaria no vapor quem não pudesse apresentar atestado de vacina contra varíola. Em Tubarão, a única pessoa capacitada para fornecer os atestados, era o Dr. Otto Feuerschütte. Estava em Laguna e voltaria só de noite e muito tarde. Foram, pois, os dois emissários ao consultório do Dr. Otto, onde se encontrava o seu ajudante, que se prontificou a fazer as vacinas, mas que os atestados só podiam ser assinados pelo médico. No entanto, ele apresentaria os atestados para a assinatura, logo que chegasse de Laguna, e que nos traria à estação antes da chegada do trem para Laguna. Tudo assim combinado, aplicou as vacinas e os dois viajantes, sossegados, foram repousar das fadigas do dia.

No outro dia, muito antes do horário do trem, foram para a estação, onde iriam recebe os almejados atestados. Chegada a hora do trem o comboio entrou na estação e fez sua parada costumeira. Os viajantes, com o olho em direção de onde deviam aparecer os atestados impacientes se moviam de um lado para outro espreitando a vinda do ajudante do médico. O relógio já marcava o último minuto da parada também este se esgotou e o trem partiu. Mesmo sem os atestados, os dois embarcaram no último momento, já com o trem em movimento, se saberem como iriam conseguir embarcar no navio sem o documento exigido; mas era a última oportunidade de chegarem a tempo para alcançar o navio que estava a partir.

 Abancaram-se desalentados, junto a Augusto Hülse, que também viajava para Laguna. O trem já se afastava da estação cerca de 200 m, quando se viu, pela frente, ao lado do trilho o ajudante do Dr. Otto, gesticulando com os braços e acenando um rolo de papel, duas folhas de papel almaço com os atestados de vacina. Quando o vagão, onde viajavam os nossos emissários, ia passando Augusto Hülse, com um golpe certeiro, apanhou os documentos esperados com tanta ansiedade

A continuação da viagem correu sem outros contratempos. Na volta, munidos com o documento da autorização para a inauguração da igreja, tomaram o trem em Laguna até Palmeiras, Pindotiba, alugando dois animais para virem de noite para os seus lares.

De posse da devida autorização, Vigário Miguel Giacca executou a bênção e inauguração da igreja uma semana antes da vinda de Frei Mateus Hoepers para rezar a sua primeira missa solene.

É evidente que a festa da primeira missa de Frei Mateus, marco inicial de muitos outros da mesma solenidade em nossa igreja (e mais tarde paróquia), foi esperada com ansiedade Embora nascido em S. Martinho do Capivari de lá partindo para o seminário, nós consideramos como filho desta terra, pois que aqui residiam os seus familiares, sua extremada mãe, irmãos e irmãs. Portanto, preparamos-lhe, de acordo com as nossas posses, festa condigna.

Outro fato digno de menção, logo após a inauguração de nossa igreja, foi o batismo condicional de Adolfo Tiscoski, sua esposa e filhos ainda não batizados pela Igreja Católica.

Os primeiros casais que recebera nesta capela, o sacramento do matrimônio mesmo dia, i.e., no dia 12 de maio de 1921, foram Jacó Arns e Maria Arns, e Adolfo Back e Adélia Arns, eles, professores de nossa escola.

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