domingo, 3 de março de 2013

História de Forquilhinha : Por Adolfo Back - XLIX


15.- Recreação e Prazeres.

 

É óbvio que desde a época da imigração de nossos maiores até as primeiras décadas do século XX, os divertimentos, na concepção da época atual, eram poucos, para não dizer nulos. Considerando-se o isolamento completo do mundo exterior, a pobreza e as muitas dificuldades de todas as espécies que deviam enfrentar, pode hoje se supor que não havia ambiente para se divertir. Porém, não era bem assim. Um provérbio diz:- "Lavra-se o terreno com os cavalos que se tem." Os bailes eram raros e quase sempre aos domingos de tarde ou por ocasião de casamentos. A gaita para a animação dos bailes era de um carreiro com dois baixos. Festas com divertimentos, geralmente, havia só uma durante o ano e era denominada Kirmes, o mesmo que quermesse, mas que se dava o sentido de festa do patrono da igreja ou capela da comunidade.

Nesta ocasião, a festa era preparada e esperada com muita antecedência e sempre compareciam ao Kirmes pessoas de outras comunidades. Mesmo que (e isto era quase sempre) não houvesse sacerdote para a festa, o povo reunia-se primeiro na capela e faziam as orações e cantos festivos relativos ao santo festejado. Após o cumprimento deste dever, começava a festa mundana com muita alegria, e não faltava o baile. Nas festas de Natal, Páscoa e Pentecostes e outras durante o ano, reuniam-se nas capelas, mesmo em casas particulares, onde não havia ainda uma capela, e davam a estes dias um especial tom de festividade, que se traduzia em que todos usavam os melhores trajes, e as orações e os cânticos eram apresentados com muita solenidade. O resto do dia, à tarde, não se distinguia por muito da tarde de um simples domingo. Depois de terem cumprido as suas obrigações na capela, todos voltavam aos seus lares, ou visitavam um parente, um amigo, um vizinho. As distrações para a tarde era infalivelmente o jogo de baralho, de especial para os homens. De um modo geral, havia três jogos diferentes muito em uso, o Skat, o solo alemão e o jogo de manilha ou também conhecido por solo brasileiro com 3, 4 e 3 parceiros, respectivamente, e com 10, 8 e 12 cartas para cada jogador. Quando não havia visita, os vizinhos mais próximos se reuniam em número suficiente para se distrair. Sempre jogavam a dinheiro, mas baratinho, para que ninguém, mesmo num dia de má sorte, viesse a perder quantia que o pudesse prejudicar. Quando se reuniam em diversos grupos de jogadores, a algazarra era grande e todos levavam tudo na brincadeira. Assim passavam os dias santificados e durante a semana trabalhavam o dia todo, não de sol a sol, mas antes e depois do sol. Naturalmente estavam cansadíssimos e um ou

outro lia um livro, raramente um jornal, pois que pouco apareciam. Na época atual, em que se tem o rádio, a televisão, os jornais diários, o futebol, não só nos domingos como também em dias de semana e muitas outras atrações, em que passar o tempo, e se conhece e fica sabendo de tudo o que se passa em todo o orbe terrestre e no espaço, dir-se-á: Que vidas estúpidas passavam os nossos antepassados! Porém, a vida era mais tranquila e feliz do que a de hoje, apesar de todas as privações daqueles tempos.

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