4.13.- A
Nova Matriz.
Quão acertada e valiosa foi a
árdua batalha travada por ocasião da pretendida construção da primeira capela
em nossa comunidade! Embora ampliada em 1934, já em 1960 se tornava pequena,
não cabendo mais o número dos fiéis que afluíam aos domingos para assistirem à
missa. Era necessária, pois, uma igreja bastante mais ampla. A ampliação com o aproveitamento
da igreja não era aconselhável, nem possível, dada a sua estrutura geral e
mesmo porque a parte construída de início, a infraestrutura não apresentava a
solidez necessária, pois que as paredes já apresentavam rachaduras ameaçadoras.
O único caminho a seguir era a construção completamente nova da Matriz.
Surgiu
então o problema do local da nova construção. A grande maioria defendia ardorosamente
o ponto de vista, que não devia ser abandonado o local onde se localizava a
velha igreja, no centro da Rua João José Back, que dava acesso à igreja e com
uma pequena curva ao longo da igreja ao Colégio das irmãs e, portanto, aos
diversos prédios escolares. Achava-se que ponto nenhum era mais próprio para a
permanência da futura igreja. Eram opiniões de leigos ao assunto. Sugeria-se,
uma vez que a igreja nova devia ser por muito ampliada em todos os sentidos, a
construção em derredor ao antigo templo, podendo este, servir, durante os
trabalhos da nova edificação como local para assistir às missas e outros cultos
divinos. Foram consultados os técnicos e, principalmente, a firma construtora
MARNA, de que fazia parte atuante o engenheiro Felipe Arns, filho desta terra.
Munidos de uma planta para a nova Matriz, bastante ampla, com traços obedecendo
à arquitetura moderna, não muito dispendiosa a sua execução, como exigia o
nosso caso, compareceram de Curitiba, onde se acha estabelecida a referida
construtora, Felipe Arns e o seu sócio Matieu, imigrante francês, que aqui reuniram
o povo, apresentando a planta, que muitos não apreciaram, dados os seus traços simples
e estranhos. Confirmaram a possibilidade de se construir em derredor à velha igreja,
sugerindo um outro local ao lado da antiga, porém desviando o rumo em cerca de um
ângulo de 450 do rumo da antiga, apresentando assim duas faces
frontais, uma do lado sul e a outra do oeste. Tudo bem esboçado, delineado e
explanado, as críticas foram desaparecendo até que finalmente foi aceita a planta
e o local para a nova matriz. Coube ao novo Vigário, que substituiu, em janeiro
de 1960, Frei Livino Daniel na paróquia do Sagrado Coração de Jesus em
Forquilhinha, Frei Everaldo Allkemper, a dura e penosa tarefa de dirigir a construção
da nova Igreja Matriz.
Frei Everaldo, que, como jovem
sacerdote, foi lançado no extremo Oeste do Estado do Paraná, na região do
Chopim, então ainda semisselvagem e numa paróquia em que as capelas distavam da
Matriz, 60 e até 90 km e só por picadas entre as atas, no lombo dos animais,
eram atingíveis. Num ambiente, onde é penoso permanecer por 17 longos anos. Naturalmente
esta vida repleta de fadigas e estafa por tanto tempo vieram a contribuir para abalar
a saúde do sacerdote. Do extremo Oeste foi transferido para Joaçaba, onde
permanece por pouco tempo, quando foi destinado à nossa paróquia.
O saldo em
caixa da Matriz não chega a dois milhões de cruzeiros velhos. Com a colaboração da fábrica da igreja, soube Frei Everaldo
agrupar os moradores, que durante semana deviam comparecer por três dias e, acordo
com o serviço em andamento, estes grupos eram mais ou menos numerosos. Este agrupamento
começava sempre na margem esquerda do rio Mãe Luzia, de cima para baixo quando
estes moradores terminavam, começa com os da margem direita, chamando a todos
ao serviço da nova construção. O terreno fora de início aplanado com o trator
da Prefeitura. Como técnico de construção veio Storch de Blumenau construtor
competente, que comandava os trabalhos, supervisionados pelo engenheiro
Bertoldo Arns, residente em Criciúma e irmão de Felipe Arns, que projetou a
obra. Foram abertas as valas para os alicerces, bastante profundas e começaram
os trabalhos do cimento armado no mês de agosto de 1960. Durante festa do Natal
deste ano, o construtor foi visitar a família em Blumenau. Os serviços da obra
já se encontravam em franco progresso. Quando de sua volta, começou novamente,
porém visivelmente aborrecido, coisas de família o importunavam e irritavam e
procurou abafar o seu despeito nos trabalhos da obra e nas pessoas que dirigiam
os trabalhos e, principalmente na pessoa de Frei Everaldo, que o tratava com carinho
e benevolência. Finalmente começou com exigências de salários impossíveis. Consultadas
as pessoas dos fabriqueiros, foi lhe apresentada uma contraoferta, que não
aceitou, e, enraivecido, abandonou a obra.
Perto de
dois meses, o trabalho da construção ficou paralisado, até que se conseguiu um
outro construtor e mais um pedreiro de Nova Trento. Recomeçada a construção,
seguiu no mesmo ritmo de antes. Merecem menção especial neste relato o
extraordinário esforço necessário para a execução das plataformas do coro e da
saliência na frente da igreja, que se compõem de uma trama de ferros entre si
ligados por entre o muro e que se suportam mutuamente da viga de cimento armado
no fim da nave da igreja, que pesa centenas de toneladas e finalmente da base
da torre. Esta consiste de um quadrado de oito metros de lado numa escavação de
cerca de 2,5 m de profundidade, preenchida de concreto armado numa espessura de
cerca de quarenta centímetros, seguindo-se uma camada de pedras de granito
conjuntadas com massa de cimento de 3 x 1, alternando-se as camadas até o nível
do chão. No espaço no centro da base se ergue a torre com muitos grossos ferros
infundidos na base, toda de ferro e concreto, numa altura de 30 metros mais ou
menos. Fica sobreposta uma cruz de cimento armado, toda revestida de material, que
com os raios do sol se toma toda relumbrante. Para esta torre foram transladados
da torre velha os três sinos de aço, ação benemérita do Padre João Stolte, que incentivou
a compra, adquiridos em 1924 de Bochum na Alemanha. Tinham recebido na bênção
os nomes de Jesus, Maria, José, que são na mesma ordem os do maior ao menor.
Por quase quatro décadas na torre da primitiva igreja, com os seus sons
melodiosos, vinham convidando e chamando os fiéis para a casa de Deus e
prestaram ao Criador as devidas homenagens e adoração. Também aos nossos sinos
poderia aplicar-se a inscrição de Schiller’s Glocke:- Vivos voco. Mortuos plango.
Fulgura frango. "Chamo os vivos. Choro os mortos. Refranjo os
raios." Sim, quantas vezes, fomos chamados pelos nossos sinos para o culto
divino, para quantos dos nossos entes queridos já falecidos os sinos se fizeram
presentes e com os seus sons agora tristes, como se estivessem chorando, acompanham
os nossos mortos à última morada e, sabe Deus, lá, quantas vezes fomos
preservados pelos nossos sinos dos violentos e traiçoeiros raios.
Todos os
trabalhos da nova Matriz se desenvolveram constante e rapidamente, assim que,
em 1962, ano do nosso cinqüentenário, no dia 29 de abril, já foi inaugurada e
entregue ao uso para o culto divino. O piso, naturalmente, só estava feito à
base de cimento áspero. O trabalho de revestimento de granito e de mármore foi
colocado na gestão do Vigário Rodrigo Vilbois, substituto de Frei Everaldo. No dia
da inauguração se nos apresentava uma sólida, espaçosa, bela e devota Igreja
Matriz, que em apenas 18 meses fora edificada e que custou, afora os muitos
dias dados gratuitamente, cerca de seis milhões de cruzeiros velhos, e que, na época
atual, devido à vertiginosa desvalorização do nosso dinheiro custaria 3 a 4
vezes mais.
Por ocasião
da inauguração se preparou uma festa com leilões, barraquinhas, etc., com ótimo
resultado, com que pudemos cobrir todos os gastos feitos e sobrava dinheiro.
Frei Everaldo, que, devido à sua saúde abalada e com a grande preocupação que
lhe causava a construção, muitas vezes se sentia abatido e desanimado, exclamou
ao ver a sobra de numerário:- “Aí está. Estamos com maior saldo em caixa do que
quando começamos." Este prodígio consistiu na substanciosa colaboração de
todos os moradores e, principalmente, do devotamento constante e eficaz do
Padre Vigário à causa.
Com o saldo
em caixa e com nova festa que todos os anos se faz, também logo se pôs em obra
o acabamento da nova matriz. Frei Rodrigo, de imediato, procurou reformar a bancada
usada na velha matriz, reforma esta que consistiu em adaptar os bancos mais aos
traços da igreja moderna e de bancos novos suficientes para as quatro filas.
Outrossim, tratou-se de investigar preços e condições para o revestimento do
piso de granito e de pedaços de mármore. Foi entregue este serviço a uma firma
em Criciúma, que trouxe muitos dissabores na execução, já que não cumpriu o
prazo marcado em contrato e muitas coisas mais. Finalmente foi terminado por
outras pessoas o serviço começado, para evitar mais desavenças e aborrecimentos.
Por último
foram encomendadas no Rancho dos Bugres, além de Urussanga, as pedras de granito para a
formação do altar-mor e do tabernáculo no fundo do presbitério. Ainda recai na
administração de Frei Rodrigo, o revestimento da escada na entrada da igreja e parte
das calçadas em redor do templo; falta atualmente ainda maior parte a ser
concluída, bem como o revestimento do coro dos cantores, o que caberá ao atual
Vigário Frei Cuniberto.
Falta
atualmente o revestimento do resto das calçadas ao redor da igreja, o revestimento
do coro dos cantores e novos confessionários, já que os existentes são inadequados
e não condizentes com o estilo moderno de nossa matriz.
Na ocasião
em que a igreja nova estava em condições de ser dada ao uso dos fiéis, apresentou-se
a tarefa da demolição da antiga igreja, que não se encontrava em condições de ser
aproveitada para outros fins. E evidente que, para todos nós, esta demolição
foi feita com grande constrangimento e pesar, pois que vimos erguer-se com
tantos sacrifícios e por mais de 40 anos serviu de local de nossos
recolhimentos mais íntimos com Deus, nosso bom Pai, o que nos lembrava de
tantos fatos e momentos sérios, ardorosos e inesquecíveis. Se a construção de um
prédio traz consigo certo perigo de acidentes, mais ainda a demolição.
A torre da
igreja antiga era encimada por uma bola de meio metro de diâmetro, com uma cruz
de cimento armado. Para a derrubada desta bola com a cruz, o pedreiro de Nova
Trento, conhecido por Zecão, voluntariamente se dispôs a subir por uma longa
escada, firmada sobre o telhado da igreja e que alcançava a altura da esfera a
ser removida. Subindo por esta escada, sem qualquer arrimo, até a ponta,
começou a esmiuçar os tijolos em redor do globo e, quando já bastante corroída
a base sobre a qual a bola descansava, pôs uma corda na ponta da cruz que alcançava
até o chão de onde se puxou e provocou a queda da cruz com a esfera. Muitos presentes
nem podiam olhar a situação de Zecão lá na ponta da torre e mesmo Frei Everaldo
se afastou e foi rezar para que nada acontecesse.
Uma vez
afastada a ponta, a continuação da demolição da torre foi mais fácil, pois que
podiam subir por entre a torre e arrancar os tijolos um a um. O material ainda
aproveitável da igreja velho foi cedido em parte à Cooperativa de Eletrificação
Rural, que, a seguir, construiu a sua sede.
Ainda
durante o tempo em que Frei Everaldo era Vigário de Forquilhinha, também se
adquiriram as estátuas para a gruta de N. S. de Lourdes e Frei Rodrigo com os
marianos construíram e custearam-na. Logo após a remoção da igreja matriz, o trator
da Prefeitura rebaixou o terreno onde se situava a igreja e retificou a Rua
João José Back, que dá agora em linha reta até ao pátio do Colégio, deixando-a
no mesmo plano da nova igreja. A casa paroquial de um lado e o cemitério do outro
lado ainda se acham na altura da primitiva lomba. Depois de tudo concluído não
há quem não bendiz a ideia de colocar a igreja na situação em a em que ela se
encontra.
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