22.-
Cooperativa Agropecuária de Forquilhinha Ltda.
Sempre que alguém queira
reunir um grupo de pessoas com a finalidade de associá-las para um determinado
objetivo, visando exclusivamente o bem-comum de uma classe toda, de uma região
ou da generalidade, constantemente encontrará indiferença ou até repulsa
daquele que se pretende beneficiar. Para este intento de onde venha, seja por
parte Governo, pelos Ministérios, das Secretarias, pessoa ou pessoas
filantrópicas, todos encontrarão este obstáculo ou mal querência . Se indagarmos
os motivos desta obstinação encontramos várias respostas de assim procederem.
Quem não conhece o espírito reto de nossos rurícolas! No entanto, opinamos que na
classe de gente nenhuma este fenômeno é tão acentuado.
Atribuímos
como causa o apego as coisas do passado. Dizem: O papai, o vovô, bisavô, todos
não precisaram, não tomaram parte em sindicatos, em cooperativas, em sociedades
de espécie alguma e viveram sossegados. A desconfiança que lhes é inata, é
provocada pelos poucos conhecimentos e alcance do que se lhes é apregoado, e na
parte não compreendida suspeitam uma armadilha para apanhar os menos avisados.
Seguem, então, ao velho provérbio em dialeto que diz: "Wat der Bua nit
kennt, das fett er nit", que traduzido seria: O que o camponês não
conhece, ele não come.
Esta
posição obstinada de nossos agricultores têm uma justificativa aceitável até certo
ponto, pelo fato de serem eles muitas vezes vítimas de charlatães que percorrem
as colônias vendendo gatos por lebres. Quantas e quantas vezes aconteceu que
mascates entraram nas casas dos nossos colonos para lhes vender cortes de casimira
com habilidade de persuasão, cortes das melhores marcas por um preço relativamente
barato. E, quando se tinham afastado, comprador ia aviar ou mandava examinar, quando
se via que os cortes de pura lã, como foram reputados, nem sequer um fio de lã
tinham e eram de algodão.
Foi muito
comentado, quando há anos passados, por ocasião da erupção da terrível peste suína
no Oeste do Estado, alguém, aproveitando-se da oportunidade, vendera por preços
elevadíssimo a cerveja preta em lugar da vacina contra a peste suína. Por estas
e muitíssimas outras do mesmo jaez, que podíamos citar, o nosso rurícola é
descrente de tudo que lhe é ofertado. Certamente ainda acontece que, apesar desta
discrepância, muitos são levados a tais absurdos, pela lábia dos charlatães.
Para
desfazer tal posição errônea de nossos colonos, é preciso que se lhes
possibilite melhor educação e os agrupamentos do futuro sejam realmente capazes
de demonstrarem os benefícios apregoados por ocasião das suas fundações. Em
todo mundo há tendência geral para os agrupamentos de sindicatos de classe: e cooperativas
de consumo e as mistas de produção e consumo. Leis federais, específicas são
criadas para este fim. Os governos estaduais facilitam e promovem a criação dos
sindicatos e das cooperativas. Temos em nosso Estado a ACARESC, órgão
apolítico, que envia pessoas com a finalidade exclusiva de promoverem, educar,
incutir na mentalidade de nosso povo a necessidade de se unirem em sindicatos
de classe e em cooperativas. Esse trabalho constante de equipe vem surtindo os
seus benéficos efeitos e vingarão se continuarem o trabalho de modo ininterrupto
e concederem as vantagens.
Nos últimos
cinco anos se fundou, no Sul do Estado, cerca de uma dúzia de cooperativas e
muitos sindicatos. As cooperativas em conjunto fundaram uma cooperativa central
com sede em Criciúma, que supervisiona a todas e os negócios de todas são efetuados
em conjunto e em grande escala pela mesma central.
Também em
nossa localidade de Forquilhinha, após a
Sociedade União Colonial S.A. entrar na fase de liquidação, por motivo preponderante
se decidiu dar lugar à cooperativa: a Cooperativa Agropecuária de Forquilhinha
Ltda. A grande maioria dos ex-sócios da sociedade em extinção e muitos outros
fazem parte integrante da nova Cooperativa.
No dia 11
de julho de 1965, houve a Assembleia Geral para a constituição da citada cooperativa.
Nas eleições para os cargos da diretoria, foram eleitos Dionísio Nuernberg, Ado
Steiner e Albino Preis para presidente, gerente e secretário respectivamente.
O Conselho
de Administração foi composto por Afonso Forgiarini, Samuel Vitali, Fidelis
Back e Mateus Eyng.
Para o
Conselho Fiscal, Max Arns, Joaquim Loch, e Rubens Gava como efetivos: para
suplentes, Lino Tiscoski, João Backes e João Eyng.
As
atividades comerciais da nova cooperativa começaram, no mesmo espaço onde em
1935, a Sociedade União Colonial começara, até que esta tivesse esgotado o
grande estoque que possuía, quando entrou em liquidação.
Quando, no
entanto, este estoque estava bastante diminuído, a cooperativa comprou a parte restante
de tudo àquilo que lhe interessava e passou a funcionar na ala onde a Sociedade
União Colonial S.A. mantinha a sua loja.
No fim de
1966, o gerente Ado Steiner, inesperadamente, afastou-se da gerência, alegando
interesses pessoais que tinha em mira em Florianópolis. Por ocasião da
Assembleia Geral Ordinária do dia 14 de abril de 1967, elegeu-se o novo gerente
na pessoa de Martinho Bernardinho.
Com o
financiamento do Banco do Estado, a Cooperativa edificou num terreno
adquirido da Sociedade União
Colonial S.A., um grande armazém para depósito dos cereais dos associados.
Sobre um alicerce de granito bastante elevado se erigiu uma estrutura metálica
com os vãos fechados de alvenaria, com a coberta de brasilite em forma de arco
de círculo. O piso até a altura dos alicerces foi aterrado e concretado. Este
aterro foi executado gratuitamente pela Prefeitura de Criciúma, já na gestão do
atual prefeito Dr. Ruy Hülse. Anexo a este armazém se colocou um moderno
secador de cereais.
A começar do ano passado,
i.e., de 1967, a cooperativa vem conseguindo um empréstimo pelo Banco do Brasil
para financiamento aos associados, de calcarei como corretivo do solo e dos
adubos químicos, que são resgatados por ocasião da safra.
Na
Assembleia Geral Extraordinária do dia 2 de dezembro de 1967, a Diretoria ficou
autorizada a participar da Cooperativa Central com sede em Criciúma e elegeu os
delegados que deviam representar a nossa Cooperativa na Central.
As sobras
verificadas nos balanços de 1965 e 1966, aliás de pouca monta, foram incluídos
no Fundo de Reserva e os de 1967 foram capitalizados nas cotas partes dos associados.
As cotas-parte iniciais foram estipuladas pelo mínimo de cinquenta mil cruzeiros
velhos, que ficaram assim acrescidos dos retornos de 1967.
Afastou-se
o gerente Martinho Bernardino, no corrente ano, por sua livre e espontânea vontade.
A nossa
cooperativa se desenvolvendo, se bem que lentamente, porém constantemente; após
ter abandonado, por enquanto, a sessão de fazendas, mantém regular estoque de comestíveis,
ferragens, papelaria, produtos veterinários e de combate às pragas das
lavouras, adubos, rações balanceadas e miudezas e conta atualmente com 187
associados registrados no Livro de Matrícula.
Consideramos
como grande e nefasto perigo para bom desempenho de todas as cooperativas o
fato de que estas têm por princípio e por obrigação de pagarem todos os
impostos, sem subterfúgios, o que as demais firmas, com pouca exceção, não
fazem. Assim se verificou que uma das cooperativas, ora em funcionamento, pagou
durante um mês, na coletoria estadual de sua jurisdição, mais impostos do que
os restantes contribuintes todos juntos. Diversos ainda dizem que se trata de
uma coletoria de uma grande circunscrição. Outro exemplo mais crasso é de uma
cooperativa que pagou no decorrer de um ano todo a maior soma de todos os
impostos recolhidos pela coletoria e movimentou apenas 10% de todos os produtos
de sua divisão administrativa. Este caso foi certificado em firma reconhecida
do coletor estadual da respectiva circunscrição. Estes fatos nos relembram de
1954, quando a Sociedade União Colonial S.A., só esta pagou a importância muito
superior a um distrito todo, não nosso, no decorrer desse ano todo. Dali se
deduz quanto é sonegado por este Brasil afora.
Felizmente,
num recente despacho o Governador do Estado concedeu a cooperativas um retomo
de 20 % dos impostos pagos, o que vem abrandar um pouco esta disparidade existente.
Todas as
firmas, mesmo as de bases sólidas, vêm lutando com dificuldades econômicas,
nesta época de transições mundiais e de inflação. Mais sensível e árduo se toma
esse fenômeno às firmas menos consolidadas e em desenvolvimento. Graças às
medidas um tanto drásticas de nosso Governo Federal, os índices de inflação nestes
últimos anos, declinaram consideravelmente, porém, ainda aí estão para tomarem
a vida difícil a ser vivida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário