4.12.- Ordenação Episcopal.
Revestiu-se como extraordinário e muito
honroso acontecimento, para toda nossa comunidade, a ordenação episcopal do
filho, aluno e conterrâneo de Forquilhinha, Frei Paulo Evaristo Arns.
Nomeado que foi, pela Santa Sé, Bispo Auxiliar
de São Paulo, Capital, Dom Paulo Evaristo Arns, filho de Gabriel Arns, pioneiro
da nossa colônia, que muitas e muitas vezes é citado com justiça, como o esteio
número um em todos os empreendimentos, e de D. Helena Steiner Arns, aluno por
seis anos em nossa escola do segundo prédio, e que daqui levou, cremos nós, com
o seu raro talento fundamento apreciável para as futuras conquistas de sua extraordinária
cultura. Escolheu Dom Paulo Forquilhinha, seu torrão natal, para a sua sagração
e como sagrante Sua Eminência Reverendíssima o Cardeal Arcebispo de São Paulo e
consagrantes Dom Honorato Piazera e Dom Anselmo Pietrulla.
Tão honrosa escolha e a vinda de personagens
tão eminentes exigiam preparativos correspondentes para recepção condigna.
Dentro de nossas posses, tudo se fez para dar brilho especial a esta festa toda
singular. Estavam assentadas as datas de 3 e 4 de julho de 1966. No dia 3 a
ordenação propriamente dita e o dia 4 para a primeira missa episcopal. As 8
horas do dia 3, o cortejo de automóveis que iriam trazer e acompanhar os
ilustres visitantes, partiram de Criciúma e para a recepção seguiu ao encontro cortejo
de cavaleiros e de ciclistas.
As 9 horas, a ordenação episcopal na Matriz e
missa concelebrada dos senhores Bispos consagrantes. Para as 12 horas, almoço
de mais de duzentos talheres, oferecido pela Prefeitura e para a tarde festejos
populares. Tudo correu brilhantemente como fora previsto e houve afluxo de
gente de todas as partes do Estado, de Curitiba, de São Paulo e de Petrópolis.
Não havendo mais espaço disponível para estacionamento de automóveis,
recorreram aos potreiros mais próximos: aglomeração de gente e de veículos em
Forquilhinha nunca vista.
Durante o banquete falou em primeiro lugar o
Bispo da Diocese, dizendo de sua satisfação de participar em sua Diocese de tal
acontecimento, seguindo-se lhe o Prefeito municipal, Dr. Rui Hülse, o Vigário
da paróquia, Frei Rodrigo, colega e confrade; Frei Boaventura Kloppenburg; um
advogado de Petrópolis, colaborador de D. Paulo na histórica década no estado
do Rio de Janeiro; um irmão de D. Paulo, o prof. catedrático Oswaldo Arns e,
finalmente, um dos velhos professores, Adolfo Back. Falou, por insistência de
familiares de Dom Paulo e de outras pessoas, dizendo que ficava bem um dos ex-professores
fizesse uso da palavra durante o banquete a ser oferecido às autoridades
presentes. Ainda na manhã do dia da ordenação permanecia indeciso, mas a
insistência continuou. Afinal o professor cedeu e proferiu o seguinte
discurso:- “Sei perfeitamente que, de minha parte, é
ousadia querer fazer o uso da palavra numa assembleia tão seleta. Queiram, pois
me aturar por alguns momentos, para que possa dar vazamento do que vai em meu
coração; pois, este transborda pela boca.
Transportemo-nos
ao longínquo e tempestuoso ano de 1914, em que houve o começo da Primeira
Guerra Mundial. No mês de julho, portanto, poucos dias antes da deflagração
desse terrível flagelo, um moço idealista e entusiasta montava o seu cavalo, rumando
à Capital do Estado, Florianópolis, em busca de um estabelecimento de ensino
que pudesse prepará-lo para dirigir uma escolinha do interior.
Como, porém, lá não existia um educandário
especializado com o fim desejado, aconselharam-no ir até Blumenau, onde havia o
seminário para a formação de professores, tal qual o nosso moço procurava. Era
o curso sob a direção competentíssima do inesquecível Frei Estanislau Schaette,
especificamente criado para o preparo de professores das escolas das zonas rurais.
Para lá se dirigiu o nosso candidato. Embora o curso já passava para o segundo semestre
do ano, o jovem matriculou-se e, com o seu ardente desejo de aprender, seu
invejável talento, recapitulou todas as matérias já ensinadas no primeiro
semestre, acompanhando com bom proveito o programa do ensino referente ao segundo
semestre. Durantes as férias de fim de ano, lá permaneceu, aprofundando-se em
todas as disciplinas, matriculando-se no último ano do curso. No fim do ano
letivo de 1915, venceu as provas com distinção, veio a Florianópolis onde se submeteu
aos exames de professor provisório. Considerado apto, requereu a escolinha de
seu desiderato. Era este moço idealista e entusiasta, o professor Jacó Arns,
aqui presente, e a escolinha que almejava era a primeira escola em Forquilhinha.
Ajustou com o seu professor, Frei Estanislau
Schaette, de aqui comparecer, durantes as férias, a fim de guiá-lo na instalação
de sua escola predileta. A inauguração da escola se deu no dia 27 de dezembro
de 1915. A matrícula inicial ascendeu a 35 alunos. Mesmo durante as férias
continuou a lecionar encaminhando as crianças matriculadas, para, quando no
começo do ano letivo de 1916, se encontrarem bastantes inspiradas para vencerem
o programa exigido.
A escola crescia rapidamente. De outras localidades
apareciam alunos em demanda de nossa escola. Já em 1921, o número de alunos aumentou
e carecia de desdobramento. Então este que lhes fala, ocupou um segundo posto professor
em nossa escola.
No nosso horário semanal, em lugar de destaque
assinalava-se o ensino da santa religião. Assim queriam os pais dos alunos,
assim desejavam os professores. Não admira, pois, que onde se dava a prerrogativa
ao ensino da religião, os bons frutos se deviam fazer sentir. Começaram, em
pequenos grupos de meninos, a se declarar dispostos a seguirem aos seminários para
a vida sacerdotal. No ano de 1925, formaram-se duas equipes de cinco meninos cada
uma. Uma destinava-se ao seminário dos Reverendos Padres do Sagrado Coração de
Jesus, em Brusque, e a outra preferiu o Colégio dos Franciscanos em Rio Negro.
Coube a mim a incumbência de acompanhá-los e guiá-los até lá.
Decidimo-nos a viajar por via marítima de
Imbituba a São Francisco do Sul. Até Imbituba tomamos o trem para alcançarmos o
navio da Costeira. Estava anunciado o dia da partida do Itaperuna para o norte.
Chegamos em tempo no porto, o navio, porém vinha com atraso de alguns dias.
Hospedamo-nos, durante três dias numa pensão, Pitigliani. Também a outros passageiros
coube a mesma sorte de esperar o navio e se achavam na mesma hospedaria, entre estes
dois padres italianos, aqui do interior. Numa longa mesa tomávamos em conjunto
as refeições. Naturalmente, os padres se interessaram pelo grupo de meninos que
me acompanhavam, durante os dias que lá permanecíamos, e indagaram do destino
dos meninos. Quando os cientifiquei que estavam decididos a seguirem a vocação
sacerdotal, disseram:- "Bem, são cinco meninos. Se for tudo muito bem,
sairá deles um sacerdote." Como não concordei com esta afirmativa e disse
que esperava melhor resultado, acabaram os padres a indagar-me, dizendo que sabiam
melhor do que eu o que se passava nos seminários e que na Itália se considerava
ótima porcentagem, se 10% dos alunos que ingressavam nos seminários chegavam a
galgar o sacerdócio. Nada mais me atrevi a retorquir-lhes. Felizmente, os
padres não permaneceram com a razão, pois que dos meus cinco meninos, três são
padres franciscanos e agora já há anos na vinha do Senhor. Quer uma feliz
coincidência que os três padres se encontram neste recinto. Chamá-los-ei e peço
que se apresentem aos convivas:
Frei Ático Eyng...
Frei Crisóstomo Arns...
Frei Jerônimo Back, meu irmão.
Seguiram-se outros grupos para o seminário e
também coube a Vós, Ex.mo Sr. Dom Paulo Evaristo Aros, a vez de seguir o
chamamento de Cristo. Seguiste-lo e hoje recebestes a essência do sacerdote de
Cristo. Se mais não fosse, a recompensa recebida pelos vossos velhos
professores, este fato de ver um ex-aluno galgar o alto posto de Apóstolo de
Cristo, sentir-nos-íamos altamente premiados pelos árduos e penosos trabalhos à
frente de nossa escola. Se indagarmos hoje, como foi possível tanto bom êxito
de nossas lutas, devemos, por um ato de justiça, atribuir grande parcela dos
méritos e resultados felizes, ao vosso extremoso, carinhoso e falecido pai,
Gabriel Arns."
O orador, ao pronunciar o nome de seu maior
amigo, seu cunhado, seu companheiro de lutas em prol de nossa comunidade em mais
de quarenta anos como fabriqueiros de nossa igreja, membros na direção de nossa
escola, da Sociedade União Colonial, S.A., nas campanhas políticas, enfim, em
todas as vicissitudes da vida, a quem manteve alta estima e consideração, a voz
lhe ficou sufocada pelo comoção, dando por encerrado o seu discurso,
balbuciando ainda as palavras:- "Tenho dito." .
Além dos bispos citados, também estava
presente às festividades o Arcebispo de Botucatu, D. Henrique Trindade e grande
número de proeminentes sacerdotes. Dos pais de D. Paulo só se achava presente a
sua carinhosa
e bondosa mãe; pois, o pai era recentemente falecido em Curitiba.
Na tarde do mesmo dia 3, Sua Eminência D.
Agnello Rossi e muitos outras pessoas deviam seguir viagem de volta, não mais tomando
parte da festa prevista para o dia seguinte.
Conforme fora prevista no programa para as
solenidades da ordenação de Dom Paulo, o dia 4 de julho estava reservado para a
primeira missa pontifical do novo Bispo; porém, este, dada a sua modéstia e
pelo fato de muitos dos sacerdotes ainda presentes serem colegas ou confrades
da Ordem de São Francisco de Assis, preferiu missa concelebrada, sendo ele o celebrante-mor.
Tomaram parte desta missa concelebrada tantos sacerdotes, quantos cabiam nas
três faces do altar, sendo as duas laterais e a versus populo. A parte
principal da missa, o Cânon, foi toda cantada, havendo um ensaio antecipado. O
resultado foi um espetáculo todo extraordinário. Nunca assistíramos a
solenidade tão comovente, convincente da realidade da presença de Cristo na
Eucaristia.
Na parte externa das festividades, houve
outras atrações, diversas representações sugestivas em torno de fatos dos
nossos antepassados e uma encenação de fato ocorrido na meninice de D. Paulo,
que foi observado por seu
falecido pai e que sempre o recordava e transmitia a sua observação.
Ficará gravado na memória de nosso povo como
fato indelével e de todo extraordinário, um conterrâneo, o primeiro Bispo saído
das nossas fileiras e galgando o alto posto de essência do sacerdócio de
Cristo.
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